Semana
passada, publicamos em nosso editorial algumas análises acerca dos resultados
do SISU, mais especificamente apontando a desigualdade de oportunidades que se
gera, quando não se tem uma educação básica de qualidade para todos os
brasileiros, do norte ao sul do país e, por outro lado, quando se transforma
uma concorrência local numa concorrência nacional.
Hoje,
aprofundando um pouco mais esta discussão, traremos uma síntese dos resultados
do SISU, considerando apenas as vagas para os cursos de Medicina nas IES
públicas que ofertaram vagas pelo Sistema de Seleção Unificada.
Para
o primeiro semestre de 2013, foram ofertadas um total de 1731 vagas para o
curso de medicina. No quadro abaixo, relacionamos o total de vagas por região
brasileira.
Regiões Brasileiras
|
Vagas ocupadas por alunos da região
|
Norte
|
29
|
Centro Oeste
|
220
|
Nordeste
|
582
|
Sudeste
|
732
|
Sul
|
168
|
Cabe
registrar que nem todos os estados brasileiros contribuíram para esse total de
vagas. Os estados do Amapá, Espírito Santo, Pará, Rio Grande do Norte,
Rondônia, Santa Catarina, Sergipe e o Distrito Federal não disponibilizaram
vagas para o curso de Medicina em suas Universidades Federais.
Algumas
matérias de jornais, ou mesmo de sites, retrataram o assunto apontando a
disparidade de oferta de vagas pelo estado de São Paulo, em relação ao total de
vagas ocupadas pelos estudantes paulistas em outras Unidades da Federação.
Porém, em nosso editorial, procuramos apontar que o problema não está na oferta
de vagas pelas Universidades Paulistas, ou mesmo na possibilidade de favorecimento
dos estudantes paulistas (ante a suposição de que, naquele estado, haja uma
educação básica de melhor qualidade). De fato, o problema surge no momento que transformamos
uma disputa local numa disputa nacional, sem dar garantias de igualdade de
condições para todos os jovens brasileiros que disputam as vagas nas IES
públicas.
Essa
desigualdade torna-se bastante evidente quando observamos as diferenças
regionais referentes à ocupação das vagas nos cursos de medicina.
Conforme
podemos observar no quadro abaixo, em estados como o Acre e Amazonas, 95% das
vagas são ocupadas por alunos de outros estados. Das 88 vagas ofertadas em
conjunto pelos dois estados, apenas 5 foram ocupadas por alunos naturais do
Acre ou do Amazonas. Vejamos o quadro completo:
Região
|
UF
|
Vagas Ofertadas
para o SISU
|
Vagas Ocupadas por
Alunos de outras UF
|
% de vagas ocupadas
por alunos de outras UF
|
Vagas ocupadas por
alunos da Mesma UF
|
% do total de vagas
ocupadas por alunos da mesma UF
|
Vagas ocupadas em
outras UF
|
Norte
|
AC
|
37
|
35
|
95%
|
2
|
5%
|
0
|
AM
|
56
|
53
|
95%
|
3
|
5%
|
1
|
|
AP
|
0
|
0
|
0%
|
0
|
0%
|
0
|
|
PA
|
0
|
0
|
0%
|
0
|
0%
|
15
|
|
RO
|
0
|
0
|
0%
|
0
|
0%
|
5
|
|
RR
|
6
|
5
|
83%
|
1
|
17%
|
2
|
|
Total
|
99
|
93
|
94%
|
6
|
6%
|
23
|
|
Centro Oeste
|
DF
|
0
|
0
|
0%
|
0
|
0%
|
26
|
GO
|
23
|
3
|
13%
|
20
|
87%
|
97
|
|
MS
|
58
|
36
|
62%
|
22
|
38%
|
15
|
|
MT
|
104
|
83
|
80%
|
21
|
20%
|
10
|
|
TO
|
4
|
2
|
50%
|
2
|
50%
|
7
|
|
Totais
|
189
|
124
|
66%
|
65
|
34%
|
155
|
|
Nordeste
|
AL
|
50
|
28
|
56%
|
22
|
44%
|
3
|
BA
|
41
|
22
|
54%
|
19
|
46%
|
42
|
|
CE
|
336
|
106
|
32%
|
230
|
68%
|
16
|
|
MA
|
50
|
12
|
24%
|
38
|
76%
|
8
|
|
PB
|
60
|
36
|
60%
|
24
|
40%
|
14
|
|
PE
|
75
|
52
|
69%
|
23
|
31%
|
31
|
|
PI
|
85
|
36
|
42%
|
49
|
58%
|
10
|
|
RN
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
45
|
|
SE
|
0
|
0
|
0%
|
0
|
0%
|
8
|
|
Totais
|
697
|
292
|
42%
|
405
|
58%
|
177
|
|
Sudeste
|
ES
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
31
|
MG
|
212
|
49
|
23%
|
163
|
77%
|
116
|
|
RJ
|
245
|
105
|
43%
|
140
|
57%
|
27
|
|
SP
|
53
|
9
|
17%
|
44
|
83%
|
211
|
|
Totais
|
510
|
163
|
32%
|
347
|
68%
|
385
|
|
Sul
|
PR
|
17
|
12
|
71%
|
5
|
29%
|
45
|
SC
|
0
|
0
|
0%
|
0
|
0%
|
18
|
|
RS
|
219
|
127
|
58%
|
92
|
42%
|
8
|
|
Totais
|
236
|
139
|
59%
|
97
|
41%
|
71
|
Fonte:
MEC.
Cabe
destacar que, dos estados que não ofertaram vagas para o curso de medicina pelo
SISU, somente o Amapá não teve alunos ocupando as vagas de outros estados. Das
1731 vagas ofertadas, 9% foram ocupadas por alunos destas unidades da
federação.
Outra
observação interessante é a capacidade de os alunos de uma determinada região
ocupar as vagas de sua própria região. Na região sudeste, por exemplo, todos os
estados que ofertaram vagas tiveram um percentual de aproveitamento maior que
50%. O estado do Rio de Janeiro, que teve o menor aproveitamento, conseguiu ter
57% de suas vagas ocupadas por alunos do próprio estado. São Paulo e Minas
Gerais tiveram, respectivamente, 83% e 77% de aproveitamento de suas vagas. Por
outro lado, na região norte, por exemplo, dos três estados que ofertaram vagas,
Acre, Amazonas e Roraima, todos tiveram um aproveitamento menor que 20%, sendo
que, conforme já mencionado acima, os dois primeiros tiveram, cada um,
aproveitamento de apenas 5% de suas vagas.
Aprofundando o olhar na distribuição das vagas por
região, observamos que, do total de vagas, apenas 2% foram ocupadas por alunos
da região norte, 10% são ocupadas por alunos da região sul, 13% por alunos da
região centro oeste, 34% da região Nordeste e 42% por alunos da região sudeste.
Fazendo essa mesma comparação, porém, em relação ao total
das vagas por região, chega-se a alguns resultados que chamam a atenção. Por
exemplo, enquanto os alunos da região norte ocuparam um total de vagas
equivalente a apenas 29% do total das vagas ofertadas pela sua região, na
região sudeste, o total de alunos aprovados equivale a 144% das vagas ofertadas
por esta região, ou seja, os alunos da região sudeste ocupam mais vagas do que
aquelas ofertadas na sua própria região!
Regiões
|
Vagas ocupadas por alunos da região
|
% de ocupação em relação ao total de
vagas ofertadas em nível nacional
|
Vagas Ofertadas pela Região
|
% percentual de ocupação em relação
ao total de vagas da região
|
Norte
|
29
|
2%
|
99
|
29%
|
Centro Oeste
|
220
|
13%
|
189
|
116%
|
Nordeste
|
582
|
34%
|
697
|
84%
|
Sudeste
|
732
|
42%
|
510
|
144%
|
Sul
|
168
|
10%
|
236
|
71%
|
Podemos “brincar” com esses números e fazer um vasto
conjunto de associações. Porém, com todos as dados apontados e as análises
feitas, já temos elementos suficientes para reafirmar tudo o que foi posto no
editorial anterior.
Acrescenta-se aí que, nesses estados que não conseguem
bom aproveitamento na ocupação dessas vagas, temos todo um investimento feito
nos estados e nas regiões, que não irão gerar retorno para o próprio estado ou
para a própria região, visto que seria uma ingenuidade acreditar que esses
alunos que migram para outros estados irão, após finalizarem seus cursos, fixar
residência e gerar riquezas para estas localidades.
Volto a destacar que não acreditamos em medidas
eleitoreiras para resolver os velhos problemas da educação brasileira, nem para
os novos problemas como os que colaborarmos em apresentar. Não será com reserva
de vagas que problemas como estes serão resolvidos, embora, certamente,
“politiqueiros” de plantão irão aproveitar a oportunidade para sugerir cotas
por região.
Solução de verdade somente quando as desigualdades
regionais forem reduzidas. Não somente as desigualdades econômicas, mas
principalmente as desigualdades culturais e educacionais.
Esta é a minha opinião.
André Assumpção
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