segunda-feira, 13 de maio de 2013

EDITORIAL 13/05/2013


  No dia 13 de maio comemoramos a abolição da escravatura. Com justiça que devemos considerar o simbolismo da data comemorativa que, com todo o mérito, busca reacender na memória de nossa sociedade as lutas do movimento abolicionista do século XIX. Porém, por outro lado, penso que seja necessária uma reflexão mais profunda sobre o desfecho do escravismo nas terras terceiromundistas brasileiras. 

  Haverá, ou não, uma face oculta da escravidão, mantida ao longo de décadas, camuflada por trás de frágeis legislações trabalhistas, pela inacessibilidade aos direitos, aos serviços públicos e à justiça, pelo enfraquecimento das relações humanas, pelos interesses de um capitalismo selvagem, que conta com o estado de completa alienação e entorpecimento da sociedade, gerado pela falsa sensação de liberdade, pelos benefícios do nosso “estado democrático de direito”, pelos prazeres do consumismo, pelo pão e pelo circo que nos são ofertados pelo Estado?



  Recentemente participei de um evento no auditório da Capes, no qual um palestrante fez uma ponderação que, pelo menos a mim, causou um certo temor. É sabido que vivemos a era do conhecimento. Como alguém que trabalha diretamente com a educação, com a formação de formadores e a formação de profissionais de outras áreas, por pelo menos duas décadas, falo da importância do conhecimento para o desenvolvimento humano e profissional do sujeito e, por consequência, da sociedade a qual ele pertence. Contudo, talvez até o momento não havia parado para refletir sobre a profundidade deste tema, dada a velocidade com que os mercados estão se modificando. 

  Ao ouvir do palestrante que, para os próximos 30 anos, mais de 50% daquilo que chamamos de emprego hoje poderão não mais existir, fiquei por longos minutos refletindo sobre as consequências disso em nossa sociedade. Lembrei-me dos últimos dados de analfabetismo absoluto e relativo no Brasil. Lembrei-me dos resultados obtidos pela educação brasileira nos exames, sejam do IDEB, do ENADE ou do PISA, e, em silêncio, me questionei: - O que será de nós? 

  Uma colocação digna no mercado de trabalho tem exigido cada vez mais, dos trabalhadores, um conjunto de habilidades e competências específicas. Houve um tempo em que bastava ter um diploma de datilografia. Hoje, uma única formação superior já não é suficiente. 

 O profissional da era do conhecimento deve dominar as tecnologias e as linguagens. Deve apresentar um bom desenvolvimento do raciocínio lógico. Deve estar conectado ao mundo globalizado. Deve apresentar uma série de outras características que, de forma geral, não são desenvolvidas na escola. São conhecimentos que, para uma parte considerável da nossa sociedade, pela falta de acesso a uma educação básica e profissional de qualidade, tornam-se inatingíveis. 

 Adiciona-se ao cenário o fato de que não existem resultados imediatos gerados por qualquer mudança nas políticas educacionais. Precisamos de, pelo menos, uma década para gerar algum tipo de resultado, caso mudanças significativas fossem feitas hoje. 

 Estamos importando médicos e engenheiros, pois não fomos capazes de nos planejar devidamente, e prever as demandas que iriam surgir em função de nosso “equilíbrio econômico”. O Brasil, como um “País de Todos”, abre suas portas para profissionais qualificados, oriundos de nações falidas de toda parte do mundo, pois não soube ensinar o seu povo a pescar. 

 Com o pão e o circo recebidos do Estado, ajudamos a movimentar a máquina capitalista, que numa lógica perversa escraviza as mentes e aniquila as ideologias. 

 Equivocadamente achamos que a cor da escravidão é exclusivamente negra, pois somente estudamos nas escolas o modelo da sociedade escravocrata da idade moderna. Porém, olhando para as sociedades mais antigas, percebemos que a escravo não possui uma única cor. No entanto, em todos os casos, é resultado do domínio de uma sociedade sobre outras, promovendo a desconfiguração das identidades culturais, das ideologias e das relações humanas. 

 É lamentável que, para esta nova escravidão “invisível”, o movimento abolicionista esteja tão desmobilizado. 

 Para reflexão... 

André Assumpção

Um comentário:

  1. O texto está bastante profundo. Nos leva a refletir sobre a forma como o Estado manipula a sociedade. Parabéns.

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Quem sou eu

André Luiz Monsores de Assumpção é matemático, educador, professor universitário e escritor. Mestre em Educação Matemática. Foi Coordenador dos cursos de Licenciatura em Matemática e Licenciatura em Pedagogia, Pro-Reitor de Graduação do Centro Universitário, Diretor Geral de IES e Gerente Acadêmico. Consultor educacional. Alice Soares Monsores de Assumpção é advogada, professora universitária e de cursos preparatórios para concursos, graduação e pós-graduação, assessora legislativa e consultora. Mediadora Judicial. Mestre em direito pela UERJ.