terça-feira, 27 de junho de 2017

Quem tem medo da matemática?!



Mais de quatro décadas após a intensificação das pesquisas em Educação Matemática no Brasil, e ainda padecemos com problemas relacionados ao ensino da Matemática, dando a impressão de que muito pouco mudou ao longo de todos esses anos.

Não podemos ser injustos com a produção e a disseminação dos estudos na área da educação matemática. Nesse período, muito se produziu nas universidades e a discussão sobre o ensino e a aprendizagem em matemática se popularizou de norte a sul do país. Porém, também não podemos negar que, de forma objetiva, os resultados não foram significativos quando observamos os resultados de nossos alunos nos exames os quais o Brasil participa.

Ainda hoje, ao questionarmos nossos alunos acerca da existência de algum prazer, afeto, ou qualquer sentimento positivo em relação à matemática, a resposta quase sempre é negativa.

Esse sentimento negativo acerca da matemática, que parece iniciar durante a vida embrionária do aluno, não encontra na escola mecanismos para a sua transformação. Seja por despreparo das equipes docentes, seja pelo fato de ter caído na normalidade, seja pela qualidade de nossos livros didáticos, ou seja pelo simples fato de não estarmos vislumbrando as causas do problema em sua totalidade.

O problema da Matemática possui similaridades com os problemas do ensino e da aprendizagem de qualquer outra área da educação. A questão é que dizer numa turma de colegas que não gosta de matemática pode te fazer popular. Ao contrário, se você diz que gosta, poderá ser rotulado de nerd e ter sérios problemas de relacionamento.

Esta similaridade está relacionada à falta de clareza, por parte dos alunos, da importância do conhecimento para a sua formação humana e profissional. Essa compreensão, que deveria ser construída ao longo da vida escolar, não encontra voz nos modelos pedagógicos implementados na maioria das escolas, muito menos em suas sobrecarregadas estruturas curriculares.

As necessidades de nossos alunos estão muito além daquilo que as escolas estão ofertando. Por outro lado, as escolas ofertam um grande volume de conteúdos que estão fora do contexto das necessidades de nossos alunos.

No caso da matemática, essa relação dos conteúdos torna-se bastante clara. Podemos exemplificar com, por exemplo, o estudo das frações. Os alunos estudam frações ao longo de quase toda a sua vida escolar. Dos primeiros anos do ensino fundamental até o último ano do ensino médio esses alunos são bombardeados com definições e regras para o uso das frações. Ao chegarem no primeiro semestre de um curso superior, que possua a matemática como uma de suas disciplinas básicas, lá está novamente a fração para atormentar a sua vida.

Um conjunto de perguntas poderão ser feitas para tentar elucidar essa questão específica sobre o ensino das frações. Porém, talvez a pergunta mais importante não esteja sendo feita. Afinal, o que acerca das frações é realmente necessário ao desenvolvimento acadêmico do aluno? Qual o nível de maturidade que esse aluno precisa ter para compreender os conceitos, não ficando limitados à repetição de regras e mecanismos prontos.

As escolas precisam priorizar o fortalecimento de seus vínculos com os alunos. Sonho em ver uma educação básica na qual os alunos possam realmente desenvolver habilidade e competências que possibilitem a formação de um ser humano crítico, ético, comprometido com as transformações do mundo e com os problemas sociais, capaz de interagir nos diversos meios a fim de gerar melhorias na qualidade de vida de sua espécie, de forma indiscriminada.

Uma escola na qual a prática esportiva, os conhecimentos das diversas linguagens da arte, as relações humanas, as línguas estrangeiras, o cuidado com o meio ambiente, dentre outros conhecimentos, tenham a mesma importância que as disciplinas e conteúdos das matrizes curriculares convencionais. Que o aluno possa buscar o desenvolvimento de um determinado conhecimento a partir de suas necessidades de aprimoramento, e não da necessidade de implementação de uma matriz curricular rígida.

Quem sabe assim não poderemos ver reduzir o medo que a maioria de nossos alunos possuem da matemática.

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Quem sou eu

André Luiz Monsores de Assumpção é matemático, educador, professor universitário e escritor. Mestre em Educação Matemática. Foi Coordenador dos cursos de Licenciatura em Matemática e Licenciatura em Pedagogia, Pro-Reitor de Graduação do Centro Universitário, Diretor Geral de IES e Gerente Acadêmico. Consultor educacional. Alice Soares Monsores de Assumpção é advogada, professora universitária e de cursos preparatórios para concursos, graduação e pós-graduação, assessora legislativa e consultora. Mediadora Judicial. Mestre em direito pela UERJ.