Não
são poucas as vezes em que me faço essa pergunta. Por que sou professor de
Matemática?
Essa
é uma pergunta composta por duas outras: Por que sou professor? Por que de
Matemática? Observem que já início a tentativa de explicação utilizando o
conceito de composição, que pode ser explicado pela matemática.
Ser
educador nunca fez parte dos meus sonhos de criança. A função de educador surge
em minha vida pela simples tentativa de ajudar colegas de turma que faziam o
curso de Eletrônica comigo no Centro Educacional Manuel Pereira.
Vários
desses colegas chegavam nessa escola para tentar concluir o antigo segundo
grau, após uma jornada de 8 horas de trabalho e, ao menos, 2 horas de viagem
num trem lotado. Desses todos lembro com mais clareza do amigo Pedro. Um jovem
senhor de uns 50 anos, com um conhecimento prático de eletrotécnica fabuloso,
mas que mal sabia as operações básicas da matemática.
Até
o segundo ano de curso eu vivia apenas para estudar. Chegava de banho tomado e
jantado para as aulas que aconteciam no turno da noite, contrastando com a
realidade da maior parte dos colegas de turma.
Sensibilizado
com as dificuldades desses colegas, resolvi dar aulas aos sábados para
ajuda-los a compreender os conteúdos e passar nas provas bimestrais.
Durante
essas aulas fui percebendo que esses colegas conseguiam entender o que eu
tentava explicar, ao contrário do que acontecia nas aulas da semana.
Após
dois anos de convívio com esses colegas consegui alcançar os meus objetivos e
ajuda-los a alcançar os deles, e isso me fez feliz.
Antes
mesmo de entrar para o curso de Licenciatura em Matemática, passei um ano
lecionando em escolas de ensino fundamental. Com pouca idade, nenhuma
experiência docente, mas muita vontade de ajudar as pessoas, entrei em salas de
aula. Consegui fazer com que aqueles alunos aprendessem alguma ciosa da
matemática, e isso me fez feliz.
Após
23 anos de magistério, percebo que o magistério é a arte de ajudar as pessoas,
aprender com essas pessoas e me fazer feliz.
É
impossível explicar o quanto é emocionante tirar alguém da “escuridão da ignorância”
(no sentido definido por Platão).
Mas
não daria para lecionar outra coisa?! É o que sempre me perguntam. Por que logo
a matemática?
Essa
explicação talvez se inicie com a análise dos meus próprios fracassos com a
matemática. Diferente do que muitos pensam, até a 8ª série era um aluno
medíocre, principalmente na matemática. O Xadrez, o meu querido amigo e
professor Domingão, minhas namoradas da adolescência, dentre outras motivações
me fizeram superar as dificuldades e começar a ter um certo domínio dessa
matemática.
A
graduação e o mestrado em Educação me ajudaram a enxergar a matemática com
outros olhos. Desde então coloquei como meta de vida ajudar as pessoas a
enxergar essa matemática que vai para além dos números e das fórmulas. Uma
matemática que nos ajuda a compreender o mundo, que dá sentido à vida, que tem
cor, som e textura. Uma matemática que, ao contrário da tristeza de antes, traz
alegria. Uma matemática que me permite dizer o que as palavras não são capazes
de escrever.
Hoje,
após 23 anos de magistério, compreendo que a matemática me abriu várias portas.
As portas do mercado de trabalho, as portas da cidadania, as portas da música,
da poesia e de várias outras expressões artísticas, as portas da compreensão do
mundo e das pessoas que nele habitam e, sobretudo, as portas da felicidade.
A
interseção das duas explicações resume a resposta à pergunta inicial em uma
única frase. Sou professor de matemática para ser FELIZ.